Empresas implementam nova diretoria estratégica – 25/04/2012

Algumas empresas nacionais e multinacionais que operam no Brasil estruturaram uma diretoria tributária para gerir operacional e estrategicamente as questões dessa área que faz interface com outras áreas: do financeiro ao setor de compras.
O custo de uma gestão tributária de excelência não é baixo, mas traz resultados que valem cada vez mais a pena. Os profissionais desse setor conseguem enxergar onde e como a empresa pode reduzir os seus gastos com pagamento de tributos – que podem chegar a 40% do faturamento -, dentro da legalidade, em todas as etapas e em todos os seus departamentos.
O que pode facilmente representar, segundo especialistas da área, ganhos de 5% no faturamento. Quanto mais presente no dia a dia da empresa, melhor é o desempenho da função. Daí as estruturas internas tributárias estarem em um momento de expansão, sem descartar a participação de auxílio externo, por meio de escritórios de advocacia e consultorias, em elaborações mais estratégicas e em operações mais complexas.
“Antes, a área tributária era vista como um custo, mas hoje é entendida como fonte de receita”, afirma João Marco, diretor da Michael Page, consultoria que experimenta aumento de 30% na demanda por profissionais para posições de gestão tributária: tanto com perfil operacional – focados nas apurações e pagamentos de tributos de rotina como com perfil estratégico – que além de deter conhecimento jurídico, buscam oportunidades para a redução de gastos.
A oferta de profissionais para a área ainda é pouca e os valores cobrados são altos. Marco diz que um gerente tributário tem remuneração média mensal de R$ 15 a R$ 23 mil o salário médio de um gerente tributarista sênior é próximo a R$ 25 mil e o de um diretor tributário parte desse valor sem limites de teto. “Esses profissionais precisam ter visão estratégica e de negócios, além de conhecimentos técnicos na área jurídica, contábil e financeira, e do domínio de inglês em uma fluência que lhe permita explicar o complexo sistema tributário brasileiro a um estrangeiro.”
Algumas instituições de ensino procuram suprir a demanda do mercado oferecendo qualificação cada vez mais direcionada para este perfil. O Insper tem orientado o seu curso de LLM em direito tributário para uma formação mais próxima às necessidades da gestão tributária desenvolvida pelas empresas.
De acordo com o professor do curso, Fábio Soares de Melo, além do conteúdo jurídico teórico e prático, há disciplinas na área de contabilidade, matemática financeira e negociação. “A procura é cada vez maior: a relação candidato vaga era de dois para uma, neste ano passou para seis para uma. As empresas querem profissionais para sua gestão tributária interna que consigam ter uma visão multidisciplinar, com a percepção de oportunidade de redução de gastos e análise de riscos. O que se traduz em uma vantagem competitiva”, afirma.
Foi para atender a este mercado, que a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) criou em 2008 seu MBA gestão tributária. Segundo o professor e coordenador do curso, Carlos Alberto Pereira, já participaram mais de 360 profissionais que atuam na área tributária: não só advogados, mas contadores e administradores.
O advogado Roberto Vasconcellos, que também é professor do módulo de direito tributário no curso de pós- GVLaw Empresarial, destaca o enfoque da formação demandada pelo mercado nos aspectos de gestão. “Esses profissionais têm que interagir com as atividades das empresas para conseguir perceber as oportunidades que permitam a redução de gastos, sem riscos de futuras discussões com o Fisco ou processos judiciais”, afirma.
“Não se trata de buscar fórmulas e tentar encaixá-las nas operações das empresas, como ocorria antes, mas de reconhecer nas atividades da organização o que pode ser feito”, diz, mencionando o exemplo dos incentivos fiscais disponíveis para empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. O profissional, explica, irá participar em outras decisões negociais, como a formação de preços. “Hoje as empresas querem formular seus preços já com os números e percentuais que serão destinados a pagamento de tributos, para conseguir a margem desejada.”
De acordo com Rodrigo Forte, sócio-diretor da consultoria Exec, que atende à demanda por profissionais de gestão tributária, há uma tendência de internalizar cada vez mais a gestão tributária. No entanto, em um mercado no qual a demanda cresce em média 20% ao ano, e os profissionais têm um valor 20% superior em comparação aos executivos da área de finanças, contabilidade, controladoria, segundo o consultor, não são todas as empresas que conseguem formar a estrutura desejada.
Andréa Háfez
Para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico