Investimentos em produção são prejudicados com impostos – 03/10/2014

Investimentos em setores importantes para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e para economia do Brasil são muito onerosos. Mas, segundo especialistas, com uma simplificação tributária prometida pelos candidatos esse cenário pode se reverter.

Pelos dados da Receita Federal, a produção de veículos automotores, produtos químicos, máquinas e equipamentos e de materiais elétricos representam acima de 20% do que é arrecadado entre todas as atividades econômicas. Somente de PIS e Cofins – que incidem sobre faturamento, isto é, devem ser pagos de qualquer jeito -, a carga é de mais de 30%.
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Neste ano até agosto, o montante recolhido por esses fabricantes foi de R$ 45,067 bilhões, o equivalente a 25% do total, e no caso de PIS e Cofins, foram 16,195 bilhões, 33% do total. Somente de máquina e equipamentos que formam a FBCF, a arrecadação do setor responde por 6% do total recolhido de tributos federais.
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O diretor de Competitividade da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini, explica que se houver uma revisão nos impostos cobrados sobre “crédito e débito”, o cenário muda.
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“A carga tributária representa 20% sobre a receita líquida do setor, mas grande parte dos impostos cobrados, após os custos serem repassados nos preços de venda, os clientes recuperam com crédito, no caso de PIS, Cofins e ICMS. Isto é, 6% são reduzidos. Mas sempre tem um porém, porque no preço de venda existem 4% que eu carrego de impostos não desonerados, não possuem crédito, como o ISS”, explica Bernardini.
Na opinião dele, se houvesse uma simplificação desses impostos que não geram créditos, os custos com investimentos em máquinas e equipamentos poderiam ser reduzidos em 10%. “Por exemplo, é o mesmo que ir para o exterior, comprar lá, e ao pedir a devolução dos impostos pagos naquele país, recebe 10%, em vez do total que tem direito no Brasil”, aponta.
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O setor
No ano passado, os investimentos em máquinas e equipamentos, segundo dados do IBGE, representaram 51,81% da FBCF. Nesse ano, a variação no volume da produção de máquinas e equipamentos em 2013 foi de 10,2%, quando, em 2012, recuou 9%.
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Contudo, em 2014 até agosto, a produção de máquinas e equipamentos recuou 5,6% na comparação com o igual período de 2013, segundo divulgou ontem o instituto. Esse resultado colaborou para a queda de 3,1% registrada pelo setor nesse mesmo acumulado.
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Análise
A advogada Ana Carolina Barbosa, do departamento tributário do Homero Costa Advogados, entende que não somente no âmbito federal, como também no estadual, medidas podem ser tomadas para reduzir a tributação de investimentos, como de máquinas e equipamentos, e, assim, gerar maior crescimento da FBCF.
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“Por exemplo, o Estado de Minas Gerais, muitas vezes concede diferimento de ICMS na aquisição de equipamentos para investimento das empresas em suas plantas industriais”, cita a especialista.
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De qualquer forma, na visão dela, às vésperas das eleições presidenciais, persistem as dúvidas com relação às propostas dos candidatos e se de fato as promessas serão cumpridas, o que costuma não acontecer.
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“Os tributos são a forma de manutenção do estado, e a sociedade não questiona a importância de pagá-los. Mas a legitimidade desta cobrança pressupõe que serviços públicos sejam prestados com qualidade […] Visando à melhora do sistema tributário, vários projetos tramitam no Congresso há anos, mas falta força política e vontade real para dar continuidade a qualquer mudança, uma vez que elas dependem também da concordância dos estados da federação e seus governos. Não vejo soluções a curto prazo”, entende.
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Ela afirma que além do Brasil precisar de um novo governo que priorize investimentos em infraestrutura, também na modernização do sistema tributário. “Nós precisamos de mudanças que acabem com a guerra fiscal entre os estados, que modernize e simplifique a tributação do ICMS. Precisamos que os tributos e contribuições regidos pelo princípio da não cumulatividade sejam realmente não cumulativos. Precisamos de desoneração tributária não só para determinados setores da economia, mas dos bens de uso e consumo da produção. E temos que fazer tudo isso com responsabilidade, ou seja, seguindo a Lei de Responsabilidade Fiscal”, sugere.
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Outra proposta da advogada para elevar os investimentos no País é estimular a entrada de recursos estrangeiros. “A tributação do capital estrangeiro no País se dá pelo IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], e ela pode ser reduzida sim”, disse. “No entanto, o que deve mudar desde já é a educação”, acrescenta, cuja ressalva é unânime no mercado para gerar mais produtividade e mais competitividade no País.
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Carga tributária
Atualmente a carga tributária supera os 30% do Produto Interno Bruto (PIB). E estudo do Instituto Brasileiro de Pesquisa Tributária (IBPT) mostra que os setores considerados mais produtivos são onerados, não só pela cobrança direta como também pela indireta.
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Conforme já divulgado pelo DCI, a maior média de tributação sobre o faturamento é para energia elétrica, de 38,65%, o impacta todos os setores. Em transportes, esse peso é de 29,56% em transportes e 32,74% em combustíveis. Somados todos prejudicam a indústria, comércio e serviços.
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Taxa de investimento
De modo geral, os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao segundo trimestre deste ano, mostram que a taxa de investimento está em 16,5% do PIB, inferior à taxa observada em igual período do ano anterior (18,1%). Esse resultado foi influenciado, principalmente, pela queda, em volume, da FBCF no período.
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Na comparação com o primeiro trimestre, o indicador recuou 5,3%, para R$ 209,8 bilhões. Em relação ao acumulado abril a junho de 2013, a retração foi de 11,2%. Conforme o IBGE, essa última queda foi explicada pelo resultado negativo da produção interna e da importação de bens de capital, sendo influenciado ainda pela construção civil no período. Nos oito meses de 2014, a diminuição foi de 6,8%.
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Fonte: Fenacon